Sol e frio. O dia amanheceu num outono sem mesmismos assombrando minha realidade inerte. A grande explicação para isto – a presente ausência da construção – tem contexto fácil e quase palpável: uma camada grossa de inconformismo incontrolável de viver uma vida de aparências, onde todos fazem somente o que deve ser feito, que me trava. É nesse ponto exato em que não sei realmente o que fazer. Portanto, não! Não acordei vendo tudo diferente. Sempre a mesma sensação de que estou no lugar errado, fazendo o que não quero fazer. Mas, afinal, o que eu estou fazendo?
Em troca de minhas toscas e velhas ilusões - ao olhar pela janela gradeada do meu quarto e ver um céu nublado e impotente em relação à chuva de logo mais, eu saboreio em doses nada contidas até o último pedaço de mim que ainda não desistiu de ver estrelas – eu queria mesmo que meu livro pudesse ser publicado hoje; Que a profunda falta de perspectiva para vencer todas as horas deste dia se transformasse numa bela oportunidade de comer espaguete acompanhado de vinho tinto suave, numa mesa composta por pessoas alegres e amadas, igual aos filmes, nos primeiros sinais do anoitecer e sem motivo especial; De que o medo de perder fosse embora, juntamente com a desesperança e o desconforto de simplesmente parecer não me encaixar nesta sociedade competitiva e que te arrasa na primeira tentativa de se aproximar do ideal.
Mas ainda não estou convencida do meu fracasso. Embora aos 27 anos eu de fato pareça muito mais perdida do que quando tinha apenas 17, eu certamente sei quem eu sou. E se tantos me apontaram muitas vezes e me fizeram duvidar de minhas escolhas, hoje eu posso dizer que vejo claramente o quanto eles estavam equivocados.
É claro que eu mudei também. Me formei com a ingênua ideia de salvar alguns mundos, e tive de brigar por um emprego, me permitindo a fazer coisas que nunca havia pensado que me prestaria, ao entrar nesta dança frenética e assustadora corrida por um sucesso o qual talvez eu nem reconheça como algo que faça sentido pra mim. É, eu sou adulta agora.
É claro que eu mudei também. Me formei com a ingênua ideia de salvar alguns mundos, e tive de brigar por um emprego, me permitindo a fazer coisas que nunca havia pensado que me prestaria, ao entrar nesta dança frenética e assustadora corrida por um sucesso o qual talvez eu nem reconheça como algo que faça sentido pra mim. É, eu sou adulta agora.
Mas... os sonhos são como folhas em branco num caderno de vida, pessoal e particular, que, aos poucos, nas horas vagas sem pressa, solitários nós colorimos sem vergonha ou receio nossas mais ávidas fantasias. Infantis como pratos de brigadeiro com granulado. E desta possibilidade infinita de viajar por um mundo só nosso, que nós escolhemos, surge a segurança da certeza: Quem amamos. O que queremos. O certo e o improvável. O poder da energia. Os valores do amor e do respeito. Nós mesmos.
O que você quer? Eu, agora, nesta tarde insípida, gostaria, dentre outras mil coisas, de uma casa no sítio e um cão chamado Preto. Uma varanda e uma horta para cuidar. A mente vazia por alguns valiosos segundos... sem grandes planos – somente eu e o acaso. E é claro, de dias assim sempre... de mesma leve melancolia, para continuar lembrando do que tanto desejo e ainda não tenho.
E você, o que quer de verdade?