terça-feira, 31 de maio de 2011

Divagando sobre a moral e a ética...

... Refletindo sobre o certo e o errado, vi que a única diferença entre os dois é a maneira como se olha para eles. Pensando sobre princípios, sobre valores, determinação, questão de ética, cheguei a uma singela conclusão: que todas as visões estão juntas e caminham praticamente para serem a mesma coisa. Ter princípios é saber-se quem é. Simples. E impossível seria saber-se quem se é desfrutando de determinação sobre atitudes, decisões, rumos e escolhas sobre si. E, uma vez que, sem princípios e determinação, a ética seria inexistente, pois, sem saber quem é, não se tem planos ou se toma decisões significativas, tampouco se determina a nada, que é seu resultado, e assim, também se ausencia à moral, que é nada mais, nada menos, do que nossos conceitos de certo e errado, e assim voltamos ao ponto de vista de quem vos escreve, de que estes são julgamentos apenas separados por tênues linhas de visões cansadas e que de nada sabem. Penso que em nosso caminhar há mais do que questões de pontos de vista pessoais, que por vezes é apenas severamente crítico e nada mais.
É cruel descartarmos o que aprendemos ao longo de nossas caminhadas por postura ou aparência; é pouco inteligente ignorarmos nossos aprendizados, vistos de nosso ângulo natural, para seguirmos passos de outros que renegaram seus desejos e fizeram história destruindo seus sonhos e acimentando sobre eles a missão de serem alguém admirado ou aceito por padrões que nada têm a ver com seus pensamentos ou vontades. Valores, a mim, são a combinação perpétua de caráter e dom. Quando eu falo caráter, falo no sentido de ser justo. E o dom, é a capacidade de se trilhar rumo à felicidade. Sem pré-conceitos, que são como prédios antigos, velhos, desbotados e carregados de histórias nostálgicas de um passado que não nos pertence mais. A ideologia não pode ceder à construções de prédios, engenheiro e operários baratos, ou à discursos e acordos que favorecem uns e prejudicam outros e que não nos levam a lugar algum. Refletindo sem cessar, sei que nada se justifica não se fazer feliz para acenar aos alheios e necessitar aplausos, tampouco, pouco conhecer-se e conhecer mais de outros do que seu próprio anseio e os passos que te levarão ao gozo de que dá o sentido de existir...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Água viva

Sou assim, feito água viva
Bailando pelas infindas curvas dessa correnteza feroz
Tentando me agarrar à qualquer coisa
Que me faça não ser mais um morto-vivo
Que me faça ser um som retumbante
Em meio à esse silêncio lancinante
Calmaria que vem de toda essa cegueira atroz

Em meio à toda essa multidão - de sentimentos - torpe
Eu carrego um coração desperto
Os olhos abertos
E talvez um embalo triste de alguma canção

Eu tenho vontade de gritar, gritar, gritar!
Pra todos vocês desse mundo
Um grito amargo
Com um ruído muito sujo

São mensagens e são palavras de algum poema
Que denunciam esse nosso segredo já tão conhecido
Em massa, vamos perpetuando esse grande esquema
De não dizer o que é reto, o que é verdadeiro, o que há de perdido!

O medo? Ah! Medo!
Sigo sempre ao teu lado
Como companheiro incansável que sou
Tantas vezes calado
Fico com as migalhas da paz
Que gentilmente Te dou

E cego, fingido, nesse bem-estar inventado
Toda noite me faço um teatro privado
Algo em mim se faz ator
Vê um mundo sem dor(?)!
Faz de conta que esquece
E faz de conta que adormece...

terça-feira, 17 de maio de 2011

A solitária

As escolas têm aquele ar maldoso, da típica sinceridade das crianças. Nela, pode se traumatizar uma pessoa que, talvez, jamais se cure.
A escola era uma armadilha. Como se tivesse que cuidar os passos para pisar por onde andava. Como se os degraus ou o piso pudessem de repente desaparecer e abrir-se um buraco em seus lugares. Das paredes saírem mãos a fim de a puxar para dentro de um acimentado sem fim. Vozes, gritos e gargalhadas eram como tiros adentrando seu corpo, este, mutilado pelas ideias de uma perseguição de ridicularização injustificada.
Sentada a um banco de cimento sem pintura, mãos nas coxas, observava as outras crianças a brincarem, num divertimento curioso. Uma alegria aparentemente inesgotável, de uma fonte invisível. Os risos soltos fáceis. As falas não direcionadas. Não censuradas. Numa forma prática de agir. Mexer os braços, as pernas, sem receio. Sem vergonha de exibir suas formas, roupas.
Experimentava, enquanto sua observação, o sentimento de limitação quanto a tudo que via. Uma carga de culpa por algo, como se fosse uma praga a ter que conviver com todos. Uma parasita a ser posta de lado, a seu lugar.
Difícil era entender por quê se sentia e era tão diferente dos demais.
Fosse o que fosse, aquilo causava uma dor absurda. Fosse culpa de ninguém, nem mesmo de si, nem mesmo de deus, ela pensava, não importava, o que sentia jamais poderia ser dividido por dois, ou por cem. Jamais poderia reduzir sua tristeza repartindo-a com alguém, se a tivesse.
Infração sua não tentar rever seus direitos de igualdade?!
Jamais ousaria questionar uma certeza de inferioridade dita por alheios. Mostrada por estranhos. Não por si. Mas por atos que vinham de outros. Estes diziam a vozes altas o valor e o preço das distintas visões conceituais.
Ficara o recreio inteiro só. Ninguém foi consigo sentar. Nem lhe falar. Sequer notaram sua presença. Era como se fosse pedaço de algum pilar. Do muro. Da cancha, de modo que poderia até ser atingida pelos chutes e boladas que não sentiria nada. Pois não há vida dentro de um tijolo e o nada jamais sentiria dor.
O toque de recolher tocou e todos foram se dirigindo às salas de aula. Menos ela. Um pensamento havia lhe tomado a mente.
Pior do que ser odiada, é sequer ser notada. E, instantaneamente, desejou ser odiada, como judas, por todos, para sentir-se segura.
Mas ninguém poderia odiá-la. Pensou. Por quê?
E muito rapidamente tudo estava vazio. E então, sentiu que daquela maneira sentia-se melhor. Perto de ninguém, não tem como ser pior. E entendeu que a solidão até lhe fazia bem. Pois lhe tirava de uma posição de defesa ou um julgamento constante, onde o que valia era o que consideravam normal.
Todos os recreios, em todos seus anos na escola, foram iguais. Presa por aqueles portões enormes, aprisionando seu corpo. Contudo, seus pensamentos voavam como pássaros livres no ar. Num amadurecimento solitário às duras manhãs intermináveis e frias dos invernos e infernalmente quentes e insuportáveis dos verões ainda mais alegres para quem se encaixava nos contextos das cenas de sua vida. Porém, menos doloridos de sentir. Como quando acostumamos com a dor.
A prolixidade de sua diferença ou, indiferença, a tudo, já fazia parte do que continha em si. Como um sinal gravado no corpo. De nascença.
Consigo, carrega ainda toda a bagagem entranhada das horas em que sua exclusão lhe levava à reflexão doída do preço a ser pago por se distinguir do que é a maioria.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Lugar-nenhum II

Existe um lugar onde o passo não é apertado. Um lugar onde o vento embala as árvores e o nosso ano não vem programado. Nesse lugar, a filosofia não é feita para a teoria, e a poesia não é relegada à estantes empoeiradas (ainda que seja gostoso constatar a passagem do tempo materializada).

Nesse lugar, a mortalha que tenta se passar por Filosofia tem para si um reduto próprio aos seus fins: um quartinho pouco iluminado, onde todas as verdadeiras lógicas e argumentos inúteis fazem-se companhia, aguardando pelo tal dia tão esperado (talvez algum túmulo condecorado).

Enquanto a poesia dança, embalada num ritmo entusiasmadamente irracional, eu penso no que seria desses dias cinzas, se não fossem os lapsos de honestidade humana (por vezes de uma beleza quase celestial): os blá-blá-blás de todo dia são como pétalas caindo no jardim... poderia ser diferente sendo para nós tão natural?

Num lugar assim, dentro de todas as geladeiras há cubos de gelo individuais em quadrados multicoloridos, e nos armários as xícaras de chá têm a cara do chalé de inverno de alguma avó. Quando chove há sempre um abrigo, logo ao seu lado. As ventanias só servem para levantar a poeira de lugares esquecidos, apagados. As festas são sempre na casa de amigos e os assuntos só esgotam quando o silêncio já é esperado.

A rima deixa de ser assim tão necessária. O acaso é confortável e morno, brando como o sol do outono. As ruas não quebram, não inundam. E os lares são feitos para durar para sempre.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Futilidades e tolices


Alguns dias atrás pensei que iria enlouquecer, de verdade. Me desesperei. Foi um tal caos em mim.
E em tempos atrás eu até queria. Pensava eu que era legal esta história de ficar “doidão”. Me despir das etiquetas, da educação. Mas aí eu fui descobrindo coisas bem boas e gostosas de se fazer. Como, por exemplo, tomar cerveja e assistir a um bom filme, inteligente e engraçado, tudo junto, e etc.
Fui descobrindo que os “doidões” não têm relevância alguma entre os homens. Até aí, foda-se. Eu também não tenho muita consideração pelo “homem”. Acontece que eu entendi que para eu gozar de atividades que me fazem ter a certeza de que viver vale a pena, preciso ter alguma significância e certa credibilidade para, pelo menos, alguns homens. Porque preciso trabalhar e ter dinheiro. Infelizmente não sou daquelas pessoas que são felizes apenas morando numa fazenda modesta e deserta; uma cuia, uma bomba e uma viola.
Talvez essa futilidade toda que eu carregue comigo – e que faz parte de muita gente – seja um sinal de que minha alma não é tão evoluída como eu pensava. (Humm...). Sim, um dia eu pensei, seriamente, ser alguém superior (nem sei explicar esse “superior”).
E aí os anos foram passando e eu me acostumando com essa minha parte fútil. De gostar de ver programas de calouros e reality shows. E fui cansando de ficar me escondendo de minhas futilidades. Não quero mais tentar disfarçar, ligando o chuveiro, enquanto sentada no vaso sanitário, o barulho do secador de cabelo, que esquenta minhas pernas geladas. E faço isso porque tenho medo que pensem que sou louca!! E pensar que anos atrás eu queria realmente enlouquecer!
Quero assinar, em cartório, todas as minhas futilidades. São minhas, sim, e o que há de mal nisso? Todos têm defeitos... por que eu seria diferente?
Desculpem a todos que decepcionei. Sim, eu assisto novela, às vezes, e, sim, também sou romântica... pronto, falei!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Resumo da noite: sonho e pesadelo

Era quase meia noite quando a farra começou. Eu já estava de pijama, aparentando uma menina comportada. Na verdade, olhava pro teto lilás do quarto, buscando uma saída para todos os meus malditos problemas. A gritaria era de crianças, vinda da casa da veterinária da rua. Senti-me dentro do seriado do Chaves, morando na vila aquela. Na sala, alguém gritou algo, a descarga do banheiro fez um barulhão... e as crianças. Jaque, ao meu lado, se queixa da bagunça dos vizinhos e ameaça gritar algo na janela. Eu disse a ela de que de nada adiantaria, pois eles não iam nos ouvir e provavelmente o berro dela somente somaria aos demais e acordaria mais meia dúzia de pobres coitados proletários.

Após mais alguns desgraçados minutos de total indignação e impotência (ainda com a sensação de estar morando num cortiço), chego a conclusão de que só havia um motivo possível para aquela descabida festa em uma quinta-feira idiota que ultrapassava todos os limites do bom senso: eles haviam ganho na loteria!! Só podia ter sido isso. Liguei o ventilador para abafar a barulheira, uma última medida desesperada.

Então eu estava num sonho louco; pesadelo. Fazia uma prova superimportante e, de repente, tinha uma branco daqueles. Um colega me tocou uma caneta e nela continha todas as informações que eu precisava. Só que eu comecei a cegar aos poucos. Quando olhei no relógio, já havia passado 1 minuto da hora de entregar a porcaria da prova. Eu estava reprovada! Depois, uma explosão me separou definitivamente de Jaque e Sinara, e me fez dormir na rua e perambular dias e dias sem telefone celular e dinheiro. Ao fim, retornei ao colégio onde tudo começou, mas havia mais ninguém lá. Porém, no caminho, encontrei uma praia linda e inabitada. Pessoas ao meu lado me elogiavam o lugar, sem cogitar ser eu uma sobrevivente; e eu de pedir ajuda a eles para voltar pra casa.

Desperto no meio da noite e recordo conversas bobas que tive com Márcia e Sinara na internet e rio sozinha. Lembro novamente da festinha sem explicação que, com certeza, me causou aquele dormir turbulento e a odeio. Márcia dizia mais cedo que precisava se encontrar consigo mesma. Aí eu a pintei como uma maluca de capuz, vagando pelo campus da universidade com olhos borrados de preto e um cigarro na boca, e todas rimos, com nossas taças de vinho imaginárias nas mãos, cada uma em um canto da cidade, rindo das desgraças da vida juntas. Para completar, aconselhada por ela, quis ser uma velha no fim de sua fodida vida, com chapéu de palha e poucos dentes na boca, arando a terra de um sítio e desenterrando uma carta, convicta de sua vida difícil e nostálgica de toda a juventude, que começava assim: Querida e velha amiga...

O dia amanheceu e mais uma vez o teto lilás... Tomando café, eu segui o dia sonhando com nosso sítio, ao lado de Jaque novamente. Só que agora com o silêncio da tarde, que gritava tão alto quanto aquelas crianças da noite anterior. Eu não estava mais perdida...

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O novo que virá


O sol se põe, deixando a tarde mais sombria e mais bonita; e a noite vai chegando devagarinho. O céu fica um azul mais escuro, e as estrelas vão aparecendo. Depois, o breu.

Então, a luz da lua faz iluminar. E a noite se faz total onipresente, imponente.

Mais horas se passam, num girar sem notar do planeta, e o sol novamente surge para dar luz a um novo dia. E assim, tudo outra vez. Assim, a vida vai se completando, para cada um, a sua forma. Ele nasce, ilumina o mundo, e tudo acorda para viver.

Criatura e as suas determinações. Seus instintos puros e impuros, sempre sob os julgamentos de um tal deus. Essa é a vida que se ensina, a vida que se aprende. A vida que as pessoas creem e querem amar.


Nos afloramentos sentimentais coletivos, a certeza é de que tudo será positivo e melhor no dia porvir. Que as pessoas serão mais educadas, mais belas, mais ricas, mais inteligentes, mais tudo de bom que haja para se desejar.


Festeja-se com champanhe, enquanto molha-se os pés no sal do mar, em meio a centenas de pedidos aos santos e estrelas para que sejamos abençoados pelo que tivermos que ser - pela água, pelas montanhas, nuvens e ar -, mais fortes, mais maduros, tolerantes, compreensivos e etc, dali pra frente; relembramos pessoas, choramos a nostalgia de momentos felizes, e a tristeza dos ruins; lamentamos, despreparados, os nossos erros e sofremos os arrependimentos de atitudes bobas e desesperadas que partiram de nossas mãos.


Mas ao nascer do sol do dia seguinte, ao passar do porre, alcoólico ou o emocional - de alegria -, percebemos, fria e decepcionadamente, que tudo está igual. Os nossos problemas são os mesmos. Nossos defeitos. Medos. Anseios. Nada está diferente do dia/ano que passou em algumas horas atrás.


Sabemos, pois mais maduros, e não por causa de numeração, mas porque amadurecemos a cada instante, a cada migalha de dor ou de felicidade, que teremos, se tivermos sorte, que enfrentarmos tantas provações ao longo dos nossos próximos minutos...


Sabemos que a vida continua e se algo muda é o nosso jeito de tratar do que temos, sejam as coisas boas ou ruins. E que o peso dos nossos carmas são pesos que teremos que carregar sós. E que as nossas dores só tocam a nós, e mesmo repartidas, são nossas, de ninguém mais.


E nessa reflexão que deprime após tanta euforia nas promessas e almejos no "tudo agora será diferente" - na imaginação inocente de que tudo será perfeito - a queda é de um degrau gigante, que nos remete à vida real; a realidade da qual não podemos subterfugiar em canto algum do universo.


E assim... segue o otimismo com suas facetas. A virada do ano é mais uma. Um motivo, uma data, para que todos tenham a fé de serem o que desejam ser momentanea ou futuramente... nesta caminhada cheia de joguetes e ciladas de cada inacabável dia.

domingo, 1 de maio de 2011

Lugar-nenhum I

Quem não precisa de subterfúgios / De esconderijos?
Quem não precisa de uma rota de fuga/ Previamente traçada
Para os momentos mais (in)certos?

Pra quem nunca enxergou algum caminho seguro/ Onde há amor e há o riso
Só resta a sombra de alguma rua/ Ou mesmo o delírio de alguma estrada
(Para onde vão todas as calmas e prazeres)/ Lugar onde nunca se está por perto.

Quem nunca precisou mentir/ Para dar alguma risada?
Quem nunca precisou fazer de conta/ Que a graça ainda não era acabada
E que a filosofia dos monges é uma grande piada?

Sonhei com algum lugar de chegada/ Parada estratégica para quem nunca se sentiu em casa
Como se a vida tivesse se feito desde sempre em território estrangeiro
Lugar onde nunca se sabe bem como agir/ E a vinda não é esperada.

Quem nunca desejou a solidão/ Mesmo por falta de outra possível jogada?
Quem não precisa encontrar a si mesmo/ Sem o reflexo do que é alheio
Para poder (con)viver em manadas?

Como todos já sabem/ E a história do medo já é manjada
Corri para a minha terra/ Onde o desconhecido me espera
E por um permanente estranhamento/ Me sinto verdadeiramente abraçada.