segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O "contrato" social...

"O homem original é uma espécie de animal tranquilo, movido por poucas necessidades, indiviso, sem coerção e, consequentemente, feliz, ligado apenas ao presente. Mas permanece "estúpido e limitado". Ora, segundo sua natureza, ele também é perfectível, portanto chamado a se desenvolver. Aqui intervém a sociedade: apenas ela permite que se adquira a palavra, a memória, as ideias, os sentimentos, a consciência moral, em suma, as luzes. Infelizmente, essa educação dos homens foi feita ao acaso, sem princípios, sem reflexão, sem respeito pela ordem natural. O resultado é um estado em que as necessidades do homem se multiplicam, em que ele não as pode satisfazer sem o outro: torna-se cada vez mais fraco, cada vez mais dividido e preocupado, cada vez menos livre. Vive num estado de "agregação", onde cada um pensa em primeiro lugar em si mesmo, luta a fim de se fazer reconhecer e dominar. Para sobreviver é preciso fazer-se aceitar, submeter-se ou impor-se, portanto preocupar-se com a opinião dos outros. Esta é a pior escravidão: precisamos dissimular o que somos, parecer o que não somos. O homem natural se destrói sem se realizar, um eu fictício vai formando-se aos poucos e substitui nosso verdadeiro eu. Todos ficam divididos e infelizes, e acabam se acomodando com seus grilhões".

Rousseau - Prefácio de O Contrato Social (Ed. Martins Fontes, 1999)

domingo, 9 de outubro de 2011

(i)regrado

Escutando o doce silêncio dos pássaros voando por sobre o prédio
O tempo passa devagar
Fica mais fácil decifrar a indecorosa força e vontade de, por coisinhas mundanas, insistir e caminhar
Mas persiste um medo, não permito enganação
Arrastados anos de plena interna busca, refaço as perguntas, mas é ilusão
Vez em quando, me aprisiono em dias de legítimo peregrinar
E entendo que nada há que melhorar
Daí esqueço a espera, imperfeição
Vou, me deixo ficar
Desconcertantes são por ora estes numerosos óbices
De fronte, a encarar, uma natureza que por moeda alguma ignora o grito
Quem sabe mais um dedo de prosa? Não há de quê!
Preferível aos calados, inertes. A mim inoperantes. Será? Por quê?
Ao menos nos nossos madrugados sonhos é possível regurgitar essa sensata nitidez
Pois que venha finalmente um colorido só de bagunça
Ventania em parceria com o lugar
Bailando um louco grupo de areia, me convida pra cantar
É tempo real de felicidade aflorando os quintais de nossa efêmera juventude
Por entre os capins longos e verdes dos campos que há pouco me fizeram chorar