quarta-feira, 1 de maio de 2013


eu não entendo
em que lugar tu vai alocar todo esse medo que te faz obtuso demais
e durante muito tempo tu te fez perguntar às estrelas - e eram noites muito estreladas aquelas de solidão dentro do teu próprio coração
o que significava aquilo tudo que parecia tão ilógico pelo prisma de quem te via mas não te enxergava,
afinal, estava escuro e tudo parecia revolto como o mar
mas isso tudo continua aqui.. tu sentes as horas, mas nunca esse tempo passar
as ruas não mudaram muito
e talvez tu tenha te perdido de casa; uma praça ainda pode te guiar, mas acho que estás longe e não queres voltar
agora deseja tanto abraçar aquela menina que és ainda, e que vê tudo sem poder tocar
queres sentir o cheiro que sentia quando abria a janela da alma, tão apaixonada pelas flores coloridas, dependuradas aventurosamente e loucas como tintas jogadas ao ar
pois admira que ainda não haja uma resposta pra tudo
só que agora estás aqui..
e cadê ela pra fazer sentido a toda essa loucura maravilhosa que faz indicar uma possível inquietação, dessas que a alegria adora aprontar?
que tem te feito gritar quando estava calando o que é tão incompreensível, desde sempre, agora, já!?
e aquele calafrio só de imaginar?
uma magia solta como bolhas de sabão, flutuando por aí
longe das mãos de quem pode simplesmente estourar a beleza de voar
com otimismo, seus espíritos vão se abraçar nesse céu que comumente erramos em não acreditar ser um simples vão
daí, quem sabe, diante da profunda e inexorável dor por aquilo que desconhecemos totalmente
tu possa sorrir, porque há beleza também em não saber
há fantasia naquilo que é secreto mas essencial
há um lugar que nem sabes explicar, mas ele existe sim
esse agora, aqui, é lá
e tu e ela é o segredo que não posso contar

segunda-feira, 29 de abril de 2013

eu que sempre sonhei com a minha voz se propagando pelo mundo, por algum mundo qualquer
em transbordar como a água da chuva no vaso de flor
com as mãos do artista, com o gesticular do ator, com a sutileza do amanhã que sempre pode ser melhor
sinto o céu pesando cinza em cima dos meus ombros
e a imensidão deserta desse coração que tanto quer


segunda-feira, 15 de abril de 2013

às vezes, é a gota de água que não mata a sede, é o cheiro da flor que não mata a fome da alma. é o canto que sai e a gente não sente, é o silêncio da noite que não acalma.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


Amaldiçoados nós, crianças ainda tentando vislumbrar uma tira distante e misteriosa de felicidade.
Pequenos, nos entorpecemos doces com as gotas e salivas amargas tentadoras da luxúria de sonhos incandescentes.
Ao som secreto de nossas almas, ouvimos baixinho mas profundo o quão lindo e certo bate nossos corações.
E até sabemos o próximo passo, mas aí... são tantas avenidas, esquinas e vizinhos. Nos esquecemos da nossa utópica juventude interna, conselheira nas melhores noites para que sejamos leiais aos pensamentos fugazes e quase eloquentes de uma vida curta e tão simples, como somos verdadeiros com os olhos que não aprenderam a mentir. Mas aí...
Vamos levando. Horas ruins. Inúmeras horas simplesmente perdidas, indesejadas. Nem sei por que fomos ali, por onde e se vamos voltar.
Ilusão pela janela do carro ou ônibus também passa diante à vista cansada de tanto se trair. Dia a dia. Passo a passo.
E então os anos correm (e corroem bebês lindos e sonhadores) como um acender banal de televisão. Nessa ora, lembro-me dos braços da mãe que ama tanto que não sabe explicar... quem dera elas pudessem para sempre proteger!
A vida nos leva, e nós levamos... uma eternidade finita vivida de segundos de desgosto por tudo aquilo que não tivemos a coragem de sentir.
Esses segundos pulsam, eu acho que podem até fazer seu corpo suar. As mãos querem tocar. A pele ganha mais cor que há. Eu quase ando em direção, mas ah!... os prédios e suas janelas me espiam curiosos e tão críticos que volto atrás.  Aquilo era paixão e isso é medo.
É essa cidade-prisão que nos transforma em nosso pior pesadelo, no qual não conseguimos sair do lugar. Sigo passos então de alguns ditos mestres, que parecem saber tão mais.  Faço carreira, estudo para (me) conquistar. Me torno um igual, esqueço até de me amar. Do mar.
Pobre daquele que não se apercebeu a tempo e nunca o fará. Na real, ele tinha tudo. Mas nós nunca sabemos mesmo.
Então a morte vem e leva embora tudo aquilo que achávamos que possuíamos. E o resto fica, pq é ar... pq é música bailante nas ondas do vento... é prazer absoluto e indizível. Como podemos não ter visto isso?? E aquela lua então?
Nós nunca compreendemos, admitamos. Às vezes achamos que sim, ora concordamos com certeza. Mas aí... nós nunca saberemos.

A um menino que não era feliz todos os dias, e morreu (existe um igualzinho dentro de nós).

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A vigília

Minha razão entende, mas meu coração é imensamente medroso.

Não há um só dia em que eu não me pergunte se sou capaz de ser amada. Se eu mereço ser amada.

Quando no céu azul ainda há vestígios das nuvens cinzas de um recente temporal, é sempre bom manter a vigília. Qualquer distante trovão ou rajada inesperada de vento anuncia um novo derramar de águas. Nem sempre calmas.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Nocturnus


Sempre gostei de sentir o ar da noite. De andar furtivamente pelas ruas quando apenas se ouve alguns poucos passos apressados de moças voltando para casa. Sei que são moças, pois o barulho é de sapato de salto batendo nas pedras da calçada. Aliás, sempre achei esse barulho gostoso. A pressa, vem, além do cansaço, do medo de andar pelas ruas desertas. Eu não sinto. Meu coração bate leve e sereno, acalmado pelo ar fresco da noite. As sombras, efeito da luz dos poucos postes, são como pintadas à mão. Posso ver nos detalhes até os pequenos borrões que ficam quando se tira a ponta do lápis preto do papel, ao acabar um traço. Um traço não muito preciso, um traço à vontade, despreocupado de qualquer precisão ou perfeição. Daqui vem a naturalidade das sombras noturnas. As luzes do céu pouco iluminam, não é mesmo essa sua função. As luzes do céu cintilam no céu, e apenas abrem caminho para novos pensamentos, novas sensações, agora descansadas do dia, resfriadas do calor sufocante, dos passos ofegantes e preocupados, das obrigações e horas marcadas. Eu ando. Penso no meu antigo e persistente desejo de ser uma espécie de ser alado, que pode participar da vida humana de longe, do alto de uma colina flutuante, talvez feita de algodão branco (mas gosto muito também dos algodões coloridos). Às vezes eu ficava horas imaginando como bom seria estar presente e, ao mesmo tempo, ausente o suficiente para não causar o mal estar que muitas vezes passo para as pessoas. Mais do que isso, de longe eu poderia ver o todo, que eu sempre quis enxergar. Ando mais um pouco. Agora faz um pouco de frio. Mas é um frio que traz desejo de conforto, bom para quem tem uma cama com lençóis perfumados e macios. [Tento esquecer que muitos não têm]. Sempre gostei de acreditar em fadas, elfos e duendes. Acredito que eles apareçam nos lugares e momentos em que a presença humana se ausenta. Imagino o parque, perto de casa, repleto deles, gargalhando em meio às danças, em meio às flores cálidas de verão. Seguindo reto pela minha rua, me aproximo do parque, e fico imaginando que, lamentavelmente, cada passo para frente é um minuto a menos de dança e de risos entre os seres mágicos. Pior do que isso, por minha culpa. Mas eu tenho uma esperança tímida e infantil de que, talvez, eu possa ser um deles. Não pura, não nascida e cultivada em essência entre eles. Talvez uma mistura entre o real e o imaginário, entre a doçura do caramelo e o amargo do sangue inocente derramado, entre o perfume dos lírios e o cheiro sufocante da poluição. Eu brinco de trancar meu passo, de demorar um pouco mais, fazendo caminhos tortuosos por entre os canteiros da calçada. Passa um caminhão barulhento. Até meus pensamentos se afastam. As fadas não poderiam estar nesses canteiros, o que me dá pena das folhas e flores que ali estão. Elas são usadas para enfeitar a calçada suja e barulhenta, mas deveriam ser o abrigo para os seres mágicos. Quero deixar claro que ser “mágico” não necessariamente significa uma espécie de capacidade para transformar coisas em outras ou fazê-las desaparecerem. A magia está na forma como sorriem suave, como os olhos sorriem com a boca, como os braços e todo o corpo dançam embalados pela imensidão desértica do perigo humano. Suas orelhas compridas fazem uma concha que lhes permitem ouvir a música dos ventos e das brisas mais leves, os cantos doces e fortes das aves e, aquilo que um humano talvez nem possa conceber – desconfio, aqui, não ser puramente humana -: sentem, em seus ouvidos, as vibrações de uma música num volume bem baixinho, feita com a alma de mil estrelas, onde o som se confunde com a luz. Onde o brilho se mistura com o tilintar. As cigarras sibilam algo parecido, mas muito mais forte. Essa música não, ela é tão sútil quanto a cor alaranjada do céu quando faltam apenas alguns milésimos de segundo para o sol se guardar. Ela nunca cessa, não há razão para parar, pois nada humano está à espreita para interromper; sem capacidade para conceber, ela está a salvo de que alguém queira fazê-la parar. Chego cada vez mais perto do parque, tenho alguns calafrios. Quero muito fazer parte, quero ouvir o som que, por enquanto, apenas concebo. O tic tac dos relógios cessam, meu coração quase para: de longe, vejo folhas grandes se curvando. A areia da trilha tem um brilho dourado a essa hora. Algumas pombas parecem acompanhar pequenos movimentos no canteiro lateral. Minha respiração diminui. Nem nos meus sonhos mais livres imaginei dançar a dança dos tempos, ouvir o som das eras, sentir os mantras de uma vida que se oculta no verde puro e profundo... Molho a ponta dos pés no lago azul marinho. Não existe sensação refrescante maior do que aquela que só é possível quando estamos livres para sentir com todos os sentidos, quando a água e o vento se misturam e fazem cócegas no meio dos dedos. Eu quis aquela noite, eu acreditei. A última coisa da qual tenho lembrança, foi a visão de asinhas acetinadas pousando nas velhas pedras do lago.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Para além dos argumentos

Tenho muitos e intensos sentimentos para falar de ética apenas com argumentos.

OK, desisto de ser filósofa. Vou ser cantora de boteco, escritora de poesia e prosa.